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Penhora em boate

Posted by Fred Pinto on 21:08

Opa galera, sei que fiquei bastante tempo longe do blog, até encontrei algumas teias de aranha por aqui, mas vou me dedicar mais e acredito que ele não ficará mais tão abandonado assim.
Esses dias estava lembrando que quando eu era mais novo e andava com a turma para balada sempre conseguíamos resolver o problema quando não tínhamos dinheiro o suficiente para pagar as contas em boates. Tudo era resolvido com o empenho de algum objeto de valor. E os donos de boates adoram isso, pois como sonegam imposto, não podem protestar cheques ou notas promissórias e portanto preferem ficar com algum objeto de valor até que você fosse lá quitar a sua dívida e recuperar o tão estimado objeto de valor.
No momento em que percebemos isso teve amigo meu comprando vários relógios na feira do paraguai, já na intenção de deixá-los espalhados pelas casas noturnas da cidade como o legítimo "relógio que me avô me deu". Em uma dessas ocasiões, juro que nem era golpe, o Guizzo realmente ia deixar o relógio dele empenhado, um relógio que acabara de ganhar. Entretanto o nosso amigo, que já estava por dentro da "manha do empenho" interviu na negociação, falando que o relógio dele era de maior valor e portanto seria o suficiente como garantia das duas contas. Dou muita risada quando lembro disso.
Pra compensar a ausência vou contar uma história das boas que envolve a penhora de um objeto de valor. Alguns nomes serão substituídos (ou não) para não causar constrangimento alheio. Já basta o meu.




Eu estava na faculdade – engraçado como as coisas ridículas geralmente acontecem nessa época – quando uma amiga resolveu comemorar o aniversário dela numa boate badalada aqui.
Uma explicação que preciso explicar é que as boates aqui em Brasília funcionam de uma forma itinerante fake. E vocês me perguntam (ou não):
- Como é isso?
E eu lhes respondo:
- Simples! Um empresário playboy pega um pouco da sua grana, aluga um espaço em algum lugar movimentado (shopping, clube e afins), faz uma decoração com um jogo de luz capenga e uns televisores, fecha contrato com fabricantes de bebidas para ganhar aqueles letreiros e geladeirinhas em comodato, contrata uma equipe de barman, um DJ com setlist da moda e voilá! Surgiu uma boate.
E vocês me perguntam:
- E o que tem de falso itinerante?
Respondo-lhes:
- Do mesmo modo que as boates surgem, elas desaparecem. Começam bombando, mas daqui a pouco surge outra e então essa primeira começa a decair e para atingir um novo público ela coloca hits do verão (no caso hoje seria o Rebolation) e convidam artistas menos consagrados, mas devido ao alto preço cobrado de entrada e consumo acabam não conseguindo se manter e assim fecham as portas. Às vezes o fechamento dura tempo o suficiente para trocar a decoração e mudar de nome e aí renovam o ciclo, mais curto dessa vez, até que fecham de vez. E para variar as boates de Brasília estão sempre nas mãos de 4 ou 5 "empresários" que se revezam nos locais de grande circulação.
Segunido a história do aniversário.
Essa boate era num shopping recém inaugurado, com difícil acesso para a galera da periferia, ou seja, um alvo fácil para os empresários.
Joana era nossa amiga de curso – aliás, a minha turma de Engenharia Mecatrônica foi uma das que mais teve mulheres aprovadas, há muito não se via algo assim, se bem me lembro foram aprovadas quatro mulheres, onde uma não se matriculou, outra desistiu antes de eu descobrir seu nome, uma se transferiu para Arquitetura e Joana foi a única a nos aturar e se formar. – ela decidiu realizar a festa dela na tal boate.
Alguns mais afoitos decidiram esperar em um boteco até que chegasse o momento de ir para a balada. O bar fica no mesmo shopping, portanto o caminho seria tranqüilo, entretanto beber de 18h até as 23h seria um pouco arriscado e preferi não me aventurar, mas o Menezes decidiu ir.
Sai de casa um pouco mais cedo com o Guizzo e fomos beber em algum lugar que não me lembro, ou fazer o movimento porta, não estou bem certo, mas sei que quando chegou a hora da festa eu já estava meio alto.
A festa tinha começado e o Menezes ligou dizendo que estava perdido, eu fiquei preocupado com ele e comecei a perguntar para onde ele tinha ido depois do boteco no shopping e ele me respondeu que não tinha ido a lugar nenhum, mas que mesmo assim estava perdido. Por incrível que pareça ele se perdeu num percurso de 50 metros entre o bar e a boate e levou mais de uma hora para chegar na balada.
Estávamos todos juntos, a turma da mecatrônica e alguns agregados. Dançamos, bebemos e nos divertimos a noite inteira, e à medida que a noite ia miando o pessoal ia se despedindo até restarem os insistentes.
A balada estava quase fechando, as luzes eram acesas aos poucos para que o povo fosse embora e foi exatamente isso que decidi fazer, mas no momento em que procurei minha comanda para pagar a conta, adivinhem? Sim, eu perdi! Na comanda havia escrito que em caso de perda o “portador” deveria pagar o equivalente à R$600,00. Primeiro que se eu perdi a comanda não sou mais o portador dela, e outra que essa cobrança é ilegal.
No caixa me recusei a pagar, afinal de contas, o controle deve ser feito pelo estabelecimento, além do mais eu não tinha a quantia cobrada, mas pelo estado em que eu estava estimei que minha conta tivesse ficado por volta de R$100,00, o que na época era um valor exorbitante para consumo individual. Fiquei no caixa aguardando os pagantes passarem e o gerente decidir atuar na minha condição. O Guizzo ficou ao meu lado aguardando o que ia acontecer. O gerente pediu que eu o acompanhasse até o escritório – eu nem sabia que boate tinha escritório no local. Acabei numa sala com dois seguranças mal encarados e um computador. Lembro-me do Guizzo ter descido comigo.
O gerente insistia para que eu pagasse os R$ 600,00 e eu insistia para que ele procurasse no sistema pelo meu nome e visse o meu consumo real, ele disse ser impossível, eu falei que não, mas era um consumidor embriagado sem moral alguma. Depois de mais de uma hora na batcaverna eles realmente se conformaram que eu não iria pagar a quantia e partiram para a negociação.
- Você tem algo de valor que possa deixar empenhado com a gente?
Aproveitei a distração e coloquei o celular dentro da cueca, relógio no bolso do Guizzo. Enchi o peito de ar e disse:
- Não senhor. Não sou muito apegado a bens materiais.
O pulso branco com uma marca de uso de relógio por anos a fio não me entregou, pois ao levantar o braço notei antes deles e não tirei mais a mão do bolso. A negociação prosseguia, o gerente me indagava sobre relógios, celulares, cheque, quaisquer objetos de valor e eu negando sempre; perguntava-me se algum amigo poderia fazer isso por mim e nada.
Enquanto tudo isso rolava, a notícia de que eu estava encrencado correu a boca miúda e todos se aglomeraram na saída da boate esperando o desfecho. Mais algum tempo se passou e todos estavam angustiados, tentavam me ligar, mas eu já tinha desligado o celular e estava incomunicável do lado de dentro. Muitos nem sabiam onde era a bendita sala.
De repente a porta da boate se abre. O Guizzo é acompanhado por um segurança até o lado de fora. O segurança se mantém de pé, com a cara fechada, enquanto o Guizzo corre o estacionamento em busca do próprio carro. Todo mundo fica sem entender e aguardam o que está acontecendo, perguntam para o segurança e não obtém nenhuma resposta. De repente o Guizzo volta, e as pessoas ficam mais confusas ao olharem o que ele tem nas mãos, a negociação tinha chegado ao fim e ele tinha ido buscar o objeto de valor que ficaria empenhado como garantia de pagamento da minha conta. Ele trazia consigo o ESTEPE! Isso mesmo, uma roda de ferro. Ele deixou o estepe como garantia de que eu voltaria no dia seguinte para quitar o débito.
Acho que quando negociamos com o gerente, ele deve ter achado que tínhamos um jogo de roda no carro, ou sei lá o que.  O que importa é que após entregar o estepe ao segurança, eu fui liberado e o pessoal do lado de fora comemorou como se um inocente estivesse cumprindo pena injustamente e fosse liberado em condicional. Ficamos alguns minutos ainda para explicar para todos o que tinha acontecido.
Essa história correu por muito tempo até nos formarmos e o gerente da casa na época deve ter o estepe como lembrança de um moleque que o passou para trás, e nunca mais deve ter sido gerente de nada.
É isso aê galera, a história é verídica. Voltei algumas vezes nessa boate, mas nunca fui cobrado sobre a conta e nunca vi o estepe como parte da decoração.
Espero que tenham gostado. Témais!

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